Chega a ser engraçado, se não me parecesse tão sério o preconceito de que a religião é necessária, não fosse por outra coisa, para intermediar e manter o conceito de ética humana, de moral e de justiça. Que sem religião seriamos monstros desumanos, injustos e indignos. Que sem o conceito de um deus seriamos meros vermes sociais. Muitos, e acreditem, entre eles pessoas de ótima índole, de boa cultura, pessoas que de alguma forma também se preocupam com o bem comum, como eu, mas que vez por outras vem para mim na defesa da religião como única guardiã e responsável pela ética. E chegam com um preconceito tão forte que para eles ser ateu é ser servo do demo, mas como pode alguém que não crê em deus crer em seu oposto, principalmente o ateu materialista, que por não crer no transcendente, não pode crer nem em um, e nem no outro. Que acreditam que ser materialista é unicamente gostar dos bens materiais, e que não ter religião é não ter amor e nem ter dignidade humana. Tento responder de forma tranquila que discordo frontalmente destas assertivas, mas tenho de admitir que várias foram as vezes que acabei sendo grosseiro, tamanha era a pressão que recebia para provar que sem religião, todos tenderiam a animais desumanos, e que insistiam em afirmar que eu ou não era ateu, apesar de assim me definir, que eu não tinha era coragem de assumir formalmente minha posição cristã, ou então que eu era um lobo com palavras de cordeiro, e que assim, logo em breve, eu mostraria minhas garras. Infelizmente para a dignidade humana eu, algumas vezes, acabei extrapolando e dizendo que se eles eram fracos e necessitavam de um tutor, de um fiscal, e de alguém para trocar com eles o freio de seus instintos por alguma salvação, eu não precisava de nada disto, eu por escolha pessoal decidi buscar minha humanidade, cheia de erros, cheia de dificuldades, cheia de tentações é verdade, mas era eu o responsável pelos meus acertos e pelos meus erros. Que se eles precisavam de perdão, eu preferia estar pronto para a punição legal ou social caso me comportasse de forma indigna e desumana, e que se fosse o caso preferia a exclusão social do que ficar agarrado a necessidades de perdão. Geralmente nestas horas eu termino com: Se a religião é o diferencial pela ética, e pela dignidade humana, o mundo que eu via era um mundo de mais sem religião do que eu, pois mesmo nas entranhas das religiões eu vejo muita desumanidade.