quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Entre o crer e o desconfiar

Entre o crer e o desconfiar, prefiro o desconfiar, pois me permite a curiosidade de buscar, de estudar, de pesquisar, de simular, de experimentar, de aprender e de pensar por mim mesmo, de forma lógica, racional e crítica, sempre de mãos dadas com algum ceticismo. Isto não significa que não tenho crenças, todos as temos, simplesmente porque é uma impossibilidade humana tudo conhecer, mas significa para mim que devo ter sérios cuidados com elas.


Não posso crer em falsidades lógicas, em impossibilidades naturais, em algo que já tenha sido categoricamente refutado pelo método científico, não posso crer em algo que direta ou mesmo indiretamente negue uma verdade estabelecida, não posso crer em algo simplesmente porque me pareça bonito, me pareça certo ou justo, não posso crer em algo simplesmente porque gostaria que assim fosse, ou porque se assim fosse me pareceria mais humano. A natureza em si não é boa e nem má, ela segue apenas seu curso natural, indiferente a nossa felicidade ou ao nosso sofrimento.

Nunca posso crer, no que quer que seja, às cegas, não posso crer em sábios e muito menos em revelações ou em autoridades do saber. Se creio em algo, e creio em muitas coisas, é porque não sei este algo, e não sei muitas coisas, assim preciso manter um estado de alerta nesta crença, um estado mental cético e curioso, um estado mental lógico, crítico e racional, para perceber se minha crença caminha para ou por impossibilidades, isto é importante porque as crenças e o como pensamos interferem diretamente no como agimos e no como estruturamos nossa relação para com o mundo e com a sociedade.

Para crer precisamos de pelo menos alguns indícios de sua possibilidade, tênues que sejam, crer sem indícios quaisquer é no mínimo injustificado. Não posso crer que um elefante de chumbo voador possa ter o fígado na cabeça, não porque o fígado não possa ficar na cabeça, de repente até poderia haver uma estrutura biológica em que o fígado aparecesse na cabeça, desde que o “circuito” digestivo tivesse outra estrutura e design, e a cabeça tivesse mais espaço, não posso enfim crer porque não existe um elefante de chumbo voador, não existe a menor evidência, o menor indício, por mais tênue que seja, que indique a possibilidade de um ser vivo biológico de chumbo, e que ainda por cima fosse capaz de voar.


Assim, entre o crer e o desconfiar, sempre dê maior valor a desconfiar, para tentar perceber se a crença não é por si só uma impossibilidade natural, ou uma perda de tempo.


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